Maurício Costa Romão
No quesito “avaliação da administração ou da gestão” dos governantes é comum os institutos de pesquisa inquirirem os respondentes sobre se o mandatário está realizando uma administração “ótima, boa, regular, ruim ou péssima”.
Como a categoria que vai de ótimo a péssimo envolve cinco alternativas, os resultados extraídos das pesquisas e apresentados à leitura não são assim de fácil assimilação, dando margem a interpretações variadas, dependendo do ângulo como são vistas*.
Daí por que se tornou praxe os institutos de pesquisa usarem apenas o percentual das subcategorias de ótimo e bom para aferir o desempenho dos governantes.
Dizer, por exemplo, que determinado incumbente tem sua administração aprovada por 40% dos eleitores (ou da população), resultado da soma dos percentuais de ótimo e bom, transmite uma informação intuitivamente simples, de fácil apreensão. Por isso o procedimento dos institutos está-se popularizando na mídia e entre os que acompanham as pesquisas.
Ademais, se a soma de ótimo e bom é confrontada com números de outras pesquisas, anteriores ou contemporâneas, do mesmo instituto ou não, tem-se uma percepção clara do desempenho comparativo do mandatário.
Veja-se, à guisa de ilustração, o gráfico azul abaixo. Nele estão postados os resultados dos cinco últimos levantamentos nacionais dos institutos Datafolha, Ibope e MDA sobre avaliação do governo Dilma Roussef, realizados entre os meses de junho e julho do corrente ano.
Nota-se claramente pela evolução da linha que representa o conceito de “aprovação” – soma dos percentuais de ótimo e bom – que durante o turbulento período das manifestações de junho, a avaliação positiva da presidente Dilma cai drasticamente.

Contudo, nos dois levantamentos da primeira quinzena de julho, há indícios de que o percentual de aprovação parou de cair e se estabilizou no entorno de 30%.
Apesar do seu appeal, o índice de aprovação, do jeito que é mensurado, apenas circunscrito à soma dos percentuais de ótimo e bom, deixa de lado informações importantes relativas às demais subcategorias: “regular” e “ruim e péssimo”. Isso traz inconvenientes formais.
Por exemplo, tome-se a pesquisa do Datafolha de 7 de junho, Os percentuais foram: ótimo + bom = 57; regular = 33 e ruim + péssimo = 9. Imagine-se agora que o instituto realizou outro levantamento em seguida, cujos resultados apresentados tenham sido os seguintes: ótimo + bom = 47; regular = 48 e ruim + péssimo = 4.
Quer dizer, de uma pesquisa para outra baixou o percentual de ótimo e bom em dez pontos de percentagem e também o de ruim e péssimo em mais da metade. Significa que alguns eleitores ficaram mais reticentes, duvidosos, em relação à gestão da presidente e migraram para o regular (“mais ou menos”): houve, concomitantemente, menos manifestações entusiásticas de ótimo e bom e, também, menos declarações desabonadoras de ruim e péssimo.
Diante das tradicionais margens de erro, por exemplo, de 3% nas duas pesquisas, a conclusão não poderia ser outra: a aprovação da gestão da presidente diminuiu dez pontos de percentagem.
Um indicador que capturasse as cinco subcategorias, ao invés de duas somente, apresentaria resultado diametralmente oposto. É o caso do índice de Avaliação da Administração, o IAA, sugerido recentemente*. O referido indicador é dado por:
IAA = [(O+B) – (R+P)] / [(O+B) + (R+P)]
Em que as letras referem-se às iniciais das palavras das subcategorias de ótimo, bom, ruim e péssimo (uma letra denominativa da subcategoria regular não aparece na fórmula porque o percentual de regular é distribuído proporcionalmente entre todas as outras subcategorias).
De fato, na pesquisa do Datafolha de 7 de junho, o IAA seria igual a 0,73. Já no exemplo simulado, o mesmo índice teria crescido para 0,84, um incremento de mais de 7%.
Em outras palavras, enquanto o Datafolha, com base nos percentuais de ótimo e bom, mostraria que a presidente Dilma Roussef perdeu popularidade (outra forma de se referir à avaliação da gestão) no período considerado, outro indicador, o IAA, que leva em consideração todas as subcategorias da dimensão Avaliação da Administração, exibiria, ao contrário, um aumento de popularidade.
Voltando aos dados reais do gráfico azul e apresentando outro gráfico, o róseo, abaixo. Os dois usam os mesmos dados das pesquisas listadas, só que retratam dois indicadores diferentes: o azulado, o convencional ótimo e bom; o róseo, o IAA, que sintetiza informações de todas as subcategorias.

Veja-se no gráfico róseo que, diferentemente da tendência estacionária apresentada quando só se levavam em conta os percentuais de ótimo e bom, a evolução de IAA aponta para continuidade de queda de popularidade da mandatária brasileira.
O índice IAA, como já se mostrou*, tem a vantagem de eliminar as subjetividades envolvidas na leitura dos números que se referem à avaliação da administração, não deixando dúvidas sobre o julgamento que foi conferido ao governante pelos eleitores. Tem também o mérito de evitar incoerências, como a de espelhar resultados que levem a conclusões equivocadas.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br
* “Pesquisas eleitorais: construindo um ‘índice de avaliação da administração’”, texto postado no blog do autor: https://mauricioromao.blog.br.