Murillo de Aragão
Blog do Noblat, 02/02/2012
O ato de governar é complexo por exigir do governante habilidades e desempenhos em múltiplas áreas. Winston Churchill, considerado por muitos o mais completo estadista de todos os tempos, é um dos grandes exemplos da capacidade multidisciplinar que um governante deve ter. Churchill tinha rara sensibilidade no trato de temas econômicos, militares, sociais e políticos, o que não significa que optasse sempre pelas atitudes politicamente corretas dos tempos contemporâneos.
Quando chamado a liderar seu país, mostrou imensa aptidão para desvendar o inimigo, motivar e direcionar os aliados e entender e animar os britânicos. Além de conseguir integrar os vários vetores sociais e analisá-los de forma ordenada e consequente.
Todo dia de manhã, Churchill recebia, por exemplo, um relatório sobre o estado de espírito dos britânicos, que sofriam com os bombardeios alemães. Seus discursos motivavam tanto os soldados quanto o povo a enfrentar o inimigo, que muitos consideravam invencível.
Mais do que a ninguém, o mundo livre deve a Churchill muitas das imensas liberdades que existem hoje.
Tendo usado Churchill como paradigma a ser observado, aponto as três inteligências básicas necessárias ao governante moderno: a inteligência econômica, a inteligência política e a inteligência social.
Inteligência econômica é aquela que orienta em prol da boa gestão financeira, do trabalho, do emprego e do investimento. Um governante inteligente economicamente é aquele que protege os fundamentos econômicos de seu país e favorece a construção de uma sociedade financeiramente confiável.
Inteligência social é aquela que permite entender as forças da sociedade e dialogar com elas, e também com aqueles que não estão bem representados nela. Nesse tipo de inteligência é preciso tanto compreender a sociedade como um corpo organizado em setores quanto as largas parcelas que não estão ou não se sentem representadas.
Dialogar com a sociedade organizada bem como auscultar os sentimentos das massas é fundamental para viabilizar um governo de cidadãos felizes.
Inteligência política é aquela que permite equilibrar as demandas da sociedade com as exigências da economia e dos aliados políticos. Em sistemas politicamente complexos, a inteligência política revela-se a mais importante delas por permitir que as demais inteligências se tornem consequentes.
As três inteligências são fundamentais, tanto para quem propõe soluções quanto para quem as debate e as implementam. Caso uma delas falhe, fica um espaço de contradições que não favorece o país e acaba protegendo o que é injusto e inadequado para a cidadania.
Alguém pode perguntar se esqueço a inteligência administrativa. Não esqueço, mas não a situo entre as inteligências estratégicas. Um bom governante saberá adquirir a inteligência administrativa, bem como dialogar com a inteligência diplomática e a militar.
Em sendo governante de uma potência, deve ter também inteligência geopolítica para lidar com o que esteja acima do meramente diplomático e que envolva aspectos regionais, econômicos, militares e sociais.
No Brasil dos tempos correntes, muitos dos presidentes demonstraram ter algumas das inteligências mencionadas. FHC e Lula, com destaque, exibiram elevada taxa de inteligência econômica e inteligência política.
No campo social, apesar dos avanços e do diálogo da era FHC, Lula é o modelo a ser seguido. Principalmente por sua disponibilidade para o diálogo, por seu lado pessoal. E, pelo lado institucional, pela criação do Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Murillo de Aragão é cientista político