APRIMORANDO A MEDIÇÃO DA “AVALIAÇÃO DE GOVERNO”

Maurício Costa Romão

Nas pesquisas eleitorais a dimensão ”avaliação de governo” tem cinco subcategorias: “ótimo, bom, regular, ruim e péssimo”.

As subcategorias ótimo e bom representam a avaliação positiva do governo e as subcategorias ruim e péssimo, a avaliação negativa. A subcategoria regular compreende as manifestações de que a gestão é “mais ou menos”, com pontos positivos e negativos.

Por envolver percentuais relativos a cinco subcategorias a apresentação e análise de resultados de avaliação de governo são relativamente complexas para apreensão e entendimento do público em geral.

Por isso mesmo houve um processo de simplificação natural da dimensão, circunscrevendo-a praticamente a duas subcategorias apenas: ótimo e bom. Quer dizer, restringindo a avaliação de governo à “avaliação positiva de governo” ou à “aprovação de governo”.

Como decorrência, a soma de ótimo e bom, como medida de desempenho governamental, se popularizou rapidamente na mídia e junto ao público.

Trata-se de informação direta, intuitiva, e de fácil interpretação: se um governo teve 40% de ótimo e bom numa pesquisa e, em outra seguinte, registrou 35%, significa que a avaliação positiva do governo caiu (ou que a popularidade do incumbente diminuiu).

Por não utilizar as informações completas da dimensão, a adoção da medida simplificada implica em um custo, que é a possibilidade de geração de resultados que suscitem interpretações equivocadas..

Por exemplo: uma queda na avaliação positiva de determinado governo pode ser compensada por uma diminuição na avaliação negativa, de sorte que a dimensão geral, “avaliação do governo”, haja melhorado. No entanto, a manchete na mídia seria “Governo tem queda na avaliação”, ou “Popularidade do prefeito diminui”, quando, na verdade, o resultado seria o contrário.

Esses equívocos são particularmente comuns nas comparações entre governos (ranking de governadores ou prefeitos). Um determinado governante ocupa a quarta posição na escala de popularidade, quando deveria estar na segunda, por exemplo.

Buscando evitar essas inconsistências sugerimos recentemente (vide “Pesquisas eleitorais: construindo um ‘índice de avaliação da administração’”, publicado em nosso blog) um indicador sintético, consequentemente objetivo, de fácil apreensão, que pudesse exprimir, sem margem de dúvidas, o sentimento do eleitor sobre a avaliação de governo extraída das pesquisas eleitorais.

O Datafolha caminhou na mesma direção e propôs recentemente outra medida alternativa, simples e de fácil assimilação.

“Funciona assim: com base nos resultados de uma pesquisa, subtrai-se a taxa de menções negativas (ruim/péssimo) da taxa de menções positivas (ótimo/bom); para evitar números negativos, soma-se 100 ao resultado. O índice final será um número entre 0 e 200. Se ficar acima de 100, a avaliação é considerada positiva. Abaixo de 100, negativa”. Aprovação de Dilma tem padrão Itamar, Ricardo Mendonça, FSP, 10/05/2014.

O presente texto elabora uma interpretação livre para a medida proposta pelo Datafolha.

Denomine-se de D o índice do Datafolha. Trata-se de um saldo entre as subcategorias de ótimo (O) e bom (B) e ruim (R) e péssimo (P), acrescido de 100. Quer dizer:

 D = [(O+B) – (R+P)] + 100

Admita-se, in extremis, que o governante tenha 100% de ótimo e bom. Então (R + P) = 0 e D = 200, que é a avaliação positiva máxima.

Agora, imagine-se um governante com 100% de avaliação negativa. Neste caso (O + B) = 0 e D = 0, que é a menor avaliação que um governante pode ter.

Daí se deduz que o índice D varia de 0 a 200:

0 ≤ D ≤ 200

Quanto mais próximo é o índice de 200, mais a gestão é bem avaliada, e quanto mais próximo de 0 mais mal avaliada é a gestão.

No caso especial em que as menções positivas são iguais às menções negativas, D = 100:

Isto é, (O + B) = (R + P) → D = 100 → avaliação neutra

Então o índice varia de 0 a 200 com um ponto intermediário em 100. Logo:

Se (O + B) > (R + P) → D > 100 → avaliação positiva (100 ≤ D ≤ 200)

Se (O + B) < (R + P) → D < 100 → avaliação negativa (0 ≤ D ≤ 100)

É oportuno ilustrar o contraste entre o método simplificado do ótimo e bom e o indicador mais completo do Datafolha.

Em recente pesquisa CNI/Ibope o ranking dos 27 governadores, usando-se apenas o critério de ótimo e bom, apontou o governador da Paraíba (em 8º lugar) com 39%, à frente dos governadores do Ceará (38%), Santa Catarina (38%) e Rio Grande do Sul (34%).

Pelo índice D do Datafolha, todavia, a seqüência do ranking de melhor avaliação seria diferente: Santa Catarina, Ceará, Rio Grande de Sul e Paraíba. O indicador D,mais completo, tem o mérito de corrigir a distorção resultante de se desconsiderar as subcategorias de ruim e péssimo.

Mas aí surge uma inevitável pergunta: como fica a subcategoria “regular”? Ela faz parte da dimensão “avaliação de governo” e não pode ser simplesmente desprezada.

O articulista não tece nenhum comentário sobre a ausência dessa subcategoria no índice D.

Não há motivos para preocupação, todavia. Desconsiderar a subcategoria regular no índice proposto pelo Datafolha não significa descartá-la, prescindir de suas importantes informações.

Com efeito, deixar as manifestações percentuais da subcategoria regular de fora da fórmula D equivale, na verdade, a distribuir essa subcategoria proporcionalmente entre os percentuais de ótimo e bom e de ruim e péssimo (vide “Pesquisas eleitorais: construindo um ‘índice de avaliação da administração”, já mencionado).

Em síntese, a nova proposta do Datafolha aprimora o cômputo da dimensão “avaliação de governo”, incorporando no índice D todas as informações básicas da categoria de vai de ótimo a péssimo.   

A medida simplificada de ótimo e bom continuará, naturalmente, a ser usada em extensão, já que foi assimilada pela mídia e pelo grande público. Requer-se apenas que se tenha consciência de suas limitações.

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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.brhttps://mauricioromao.blog.br.

 

 

 

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