Marcos Coimbra
Blog do Noblat, 04/04/2012
Existem políticos cuja ascendência deriva de sua capacidade de estabelecer laços afetivos com o eleitorado. Por razões às vezes misteriosas, conseguem que milhões de pessoas gostem deles, sem, aparentemente, despender qualquer esforço. Têm aquilo que Max Weber chamava carisma. Em nossa história, conhecemos alguns. Os mais velhos se lembram de Juscelino. E há hoje um exemplo maior: Lula.
Outros adquirem liderança sem contar com o carinho da população, apenas através do exercício do poder. Mandam e são obedecidos. Mais que respeitados, são temidos, pois as pessoas supõem que, assim como fazem o bem quando querem, podem fazer o mal – e o fazem.
Na Bahia, havia quem sentisse genuíno amor por Antonio Carlos Magalhães, mas sua força vinha, principalmente, do controle que mantinha da vida do estado. O cidadão comum acreditava que aborrecê-lo custava caro.
A imagem de alguns está lastreada na inteligência e no saber. Não despertam afeições ou submetem pela autoridade. São técnicos habilidosos, que estudaram as respostas aos problemas que a sociedade enfrenta. As pessoas os seguem por pragmatismo: porque funcionam.
Há uns anos, Jaime Lerner entrou por essa porta na vida política. Foi prefeito de Curitiba, governador e chegou a ser cogitado para a presidência. Até hoje, é citado como especialista em gestão.
Grandes são os políticos que reúnem todos esses elementos. Quando carisma, autoridade e competência – em graus variáveis – se combinam, surgem os líderes verdadeiros, os que influenciam o resultado das eleições.
E quando faltam os três? Que tamanho tem um político que não consegue que as pessoas o queiram, sigam ou admirem?
O prefeito de São Paulo é um desses. Hoje – apesar de ser percebido como articulador astuto -, a população da cidade não acha que ele seja um bom administrador, não deseja a continuidade de seu trabalho e não pretende levar em conta sua indicação na escolha do sucessor. Pelo que dizem nas pesquisas, se pudessem, não votariam para que permanecesse.
Que influência eleitoral pode ter um político com essa imagem? Que papel pode ter Gilberto Kassab nas eleições na cidade? E em outros municípios? Modesto, para dizer o mínimo.
E o PSD?
Depende. Fundamentalmente de uma coisa: se terá tempo de televisão. E as chances de que o obtenha são incertas.
Admitir que o PSD faça jus ao tempo a que teria direito se tivesse eleito a bancada que hoje possui equivale a considerar que o dono exclusivo do mandato é o eleito e não a legenda. Algo que a legislação em vigor e as decisões do STF e do TSE não reconhecem. Pelo contrário.
Os peesedistas sustentam que a criação de um novo partido equivale à fusão de dois ou mais existentes, situação em que a legislação admite que o que surgir terá seu tempo somado. Os casos são, porém, diferentes: na fusão, nenhum partido diminui.
O tempo total de televisão é finito, o que quer dizer que, se o PSD ganhar algum, outros perderão. Ou seja: o tempo deles deixaria de ser calculado do modo que a legislação prescreve, pelo tamanho das bancadas no início da legislatura – e não a cada momento, exatamente para coibir o troca-troca de partidos.
Mas, com a tradição de complacência de nossos tribunais em questões desse tipo, é possível que o PSD acabe tendo o tempo que deseja.
Só assim terá significado nos arranjos eleitorais deste ano. Senão, será apenas uma curiosidade identificar o candidato que recebe “o apoio de Kassab”.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi