
Por Maurício Costa Romão
As pesquisas de opinião ocupam hoje em dia espaço transcendente como ferramenta auxiliar do moderno marketing político. Elas assumiram uma importância tal como dispositivo de detecção de sentimentos, necessidades e opiniões dos eleitores, que já não se concebe, atualmente, planejar uma campanha política sem que elas estejam incluídas no rol dos principais instrumentos disponíveis ao núcleo central de estratégia e decisão.
Das pesquisas eleitorais quantitativas, a que vem merecendo cada vez mais especial relevo é a de tracking (rastreamento, trilha, caminho), que tem a característica distintiva de ser de curta periodicidade (diária, em geral), ademais de possuir os mesmos requisitos de desenho metodológico de uma pesquisa convencional (survey).
Essa modalidade de levantamento é altamente recomendada – para não dizer indispensável – como instrumento de medição de movimentos ondulatórios de percepção e sentimentos dos eleitores na reta final das campanhas políticas, particularmente nos últimos 30 dias, possibilitando, assim, intervenções rápidas e redirecionamentos estratégicos de curtíssimo prazo por parte do núcleo decisório.
O grande diferencial do tracking, relativamente à pesquisa usual, reside na inclusão diária de novas informações à amostra, concomitantemente com o descarte de dados mais antigos, utilizando-se, para tanto, do princípio estatístico de médias móveis.
Dessa forma, todo dia um novo contingente de eleitores é entrevistado e as entrevistas mais antigas são eliminadas do conjunto (sempre se preservando, contudo, a inteireza da amostra). O tracking tem, portanto, um caráter de processo, ao invés de representar uma fotografia de momento, como é próprio do survey tradicional.
É oportuno dar um exemplo concreto dessa sistemática, para sua melhor compreensão. Os dados do primeiro Gráfico foram extraídos do site americano do Gallup e são relativos à aplicação de pesquisa diária (de 15 de agosto a 6 de setembro) à eleição presidencial dos Estados Unidos em 2008, entre o candidato democrata Barak Obama e o candidato republicano John MCcain.
A pesquisa foi realizada inicialmente entre os dias 15 e 17 de agosto, utilizando uma amostra representativa de 2.765 votantes, com margem de erro de 2%, para mais ou para menos, exatamente como se fora um levantamento comum de pesquisa de intenção de voto.
Uma particularidade do tracking, entretanto (que não é, em geral, uma preocupação da pesquisa convencional), consiste em dividir a amostra em subconjuntos numericamente iguais, aplicando-se o mesmo número de questionários em cada um dos dias de trabalho de campo.
No caso da eleição estadunidense, por exemplo, 922 questionários foram aplicados no dia 15 de agosto, mais 922 no dia 16, e mais a mesma quantidade no dia 17, perfazendo no total 2.766 entrevistas, o que já ensejou o Instituto Gallup a publicar, no domingo 17, o primeiro resultado da amostra completa: Obama 46%, McCain 43% [vide primeiro Gráfico].
Observe-se que tal procedimento, exceto pela divisão da amostra total em partes quantitativamente iguais, não é diferente da sistemática metodológica dos levantamentos usuais, nos quais a coleta de dados se faz, normalmente, em três dias de trabalho de campo.
A partir da finalização dos trabalhos de campo, se conclui a tabulação e consolidação dos dados (daí em diante, é oportuno chamar a atenção para isso, a pesquisa convencional está encerrada: novos fatos ou informações não são mais considerados, só podendo ser captados, eventualmente, em outro levantamento contemporâneo). Concluídas a tabulação e consolidação dos dados, disponibiliza-se o resultado em seguida.
Voltando ao exemplo americano, no quarto dia (dia 18), entretanto – e aí se estabelece o diferencial metodológico do tracking – novas 922 entrevistas são feitas, e as primeiras 922, realizadas no dia 15, são desconsideradas.
No quinto dia (dia 19), o mesmo procedimento se repete: faz-se nova aplicação de 922 questionários e se descartam os dados mais antigos (aqueles do dia 16), e assim por diante, possibilitando ter-se sempre a amostra completa e atualizada de 2.765 votantes a cada dia que passa, graças à média (que sintetiza os percentuais de intenção de votos) que se vai movendo (rolling average) horizontalmente nesse processo dinâmico de inclusão/exclusão de informações.
No primeiro Gráfico nota-se que os dois candidatos vinham emparelhados até as proximidades da Convenção Democrata, quando então Obama se distancia de McCain, atingindo o pico de sua curva em primeiro de setembro, com 50 pontos de intenção de votos.
A partir daí, o postulante democrata começa a perder pontos e seu oponente a ganhar, este último submetido a uma maior exposição na mídia, fruto dos preparativos da Convenção Republicana. No dia 6 de setembro, captando o encerramento da Convenção, o tracking já apontava MCcain (48%) à frente de Obama (45%), pela primeira vez com uma distância fora da margem de erro.
O outro gráfico gerado pelo Instituto Gallup cobre, desta feita, o período mais recente de 30 de setembro a 19 de outubro, já captando o sentimento dos americanos depois do terceiro e último debate presidencial de 2008.
Como se vê pelo delineamento das curcas, Obama abriu uma apreciável frente de 10 pontos de percentagem sobre seu adversário, faltando cerca de 15 dias para o pleito. É oportuno mencionar, para enfatizar essa vantagem do democrata, que, àquelas alturas, apenas 1% dos eleitores estariam inclinados, eventualmente, a mudar de candidato, e somente 6% dos votantes manifestaram estar indecisos.
Como se pode depreender do conjunto de informações propiciado pelo tracking, a importância desse tipo de pesquisa científica de coleta diária de dados é crucial: o comando da campanha tem possibilidades de captar ocorrências e impactos de fatos novos, instantaneamente, e de acompanhar de forma minuciosa as mudanças eventuais de tendências do eleitorado, expressas nas variações diárias de intenção de votos, o que enseja subsídios valiosos para direcionar as estratégias políticas, operacionais ou de comunicação aos alvos e desígnios almejados.