A BOCA DE URNA DO IBOPE NO SEGUNDO TURNO

Fonte: elaboração do autor, com base em pesquisas boca de urna do Ibope

Por Maurício Costa Romão

Na pesquisa boca de urna as entrevistas são feitas depois que o eleitor vota. Sob este aspecto esse tipo de levantamento tem, pelo menos, três grandes vantagens sobre o survey convencional, que é realizado pré-voto:

(1) capta os sentimentos mais recentes dos eleitores, atualidade que a pesquisa normal não chega a alcançar; (2) não é sobressaltado por mudanças de posição do eleitor: os indecisos se decidiram, e quem eventualmente cogitava mudar de uma candidatura para outra, não mais pode fazê-lo, e

(3) tem mais capacidade de detectar os impactos numéricos das chamadas “ondas de opinião”, movimentos inesperados que alavancam candidaturas às vésperas das eleições, fenômenos que a pesquisa anterior ao dia do pleito tem dificuldade de acompanhar e, sobretudo, de mensurar.

Daí por que a pesquisa boca de urna é a modalidade que apresenta o maior índice de acertos, quando se comparam suas estimativas com os resultados oficiais das eleições. Quer dizer, os prognósticos da pesquisa boca de urna, considerada a margem de erro amostral, são os que mais se aproximam dos valores observados, relativamente aos levantamentos de antes do dia da eleição.

No primeiro turno da eleição deste ano, o Ibope fez pesquisas boca de urna em 16 estados, porém cometeu erros em quase todas elas, alguns dos quais gritantes, como não acertar a ordem de colocação do candidato, prevendo, por exemplo, determinado postulante em primeiro lugar, quando ele terminou em terceiro.

Os equívocos dos institutos aqui referidos são resultados projetados fora da margem estatística de erro, quando cotejados com os percentuais das urnas.

Se um instituto prognosticou, por exemplo, que determinado candidato teria 50% de intenções de voto, com uma margem de erro de 2%, para mais ou para menos, e o candidato obteve 53%, então, tecnicamente, o instituto cometeu uma falha estatística de estimativa, pois não incluiu esse percentual dentro de sua margem de variabilidade de erro (48% a 52%).

Já no segundo turno, todavia, o Ibope redimiu-se da má performance das pesquisas de boca de urna da primeira etapa da eleição. Acertou, no limite da margem de erro, o resultado presidencial do Brasil e de sete estados, entre nove, onde houve segundo turno. Esse balanço pode ser visto na tabela que acompanha o texto.

Olhando na tabela a discrepância média, em valores absolutos, entre as projeções do instituto e os percentuais registrados nas urnas, é digno de se notar que em quatro estados em que o Ibope previu corretamente as intenções de voto dos candidatos dentro da margem de erro, a distância dos prognósticos para os valores observados ficou abaixo de um ponto de percentagem, sendo que, no caso do Piauí, praticamente cravou o mesmo resultado das urnas.

Por outro lado, o instituto continuou com problemas de previsão na Paraíba e no Distrito Federal. Aqui, no estado vizinho, a boca de urna do primeiro turno errou o nome do candidato vencedor e agora, nesta nova etapa, projetou empate numérico, 50% a 50%, mas o vencedor obteve 53,70% dos votos válidos, acima do limite máximo da margem de erro de três pontos percentuais.

No Distrito Federal o Ibope prognosticou 52% para o vencedor do primeiro turno, que obteve nas urnas 48,41%, percentual que ficou fora da margem de erro de dois pontos e, agora, neste outro turno, subestimou a votação do vencedor em 3,10 pontos (previu 63%, quando o resultado foi 66,10%).

É natural que o índice de acertos seja maior no segundo turno, principalmente numa eleição em que, na primeira etapa, estavam em jogo seis cargos, incluindo dois para Senador. O questionário é mais simplificado, a duração da entrevista é menor, não existe mais a influência dos proporcionais, só são dois nomes na disputa para Governador e dois para Presidente, a incidência dos votos brancos e nulos é sempre menor, etc.

Ademais, os institutos de pesquisas têm, no segundo turno, uma nova oportunidade de corrigir os eventuais desacertos em que incorreram no primeiro, principalmente minimizando o erro não-amostral, resultante de concepções metodológicas equivocadas no desenho da pesquisa e de impropriedades no trabalho de campo.

Last, but not least, no caso da eleição presidencial, as pesquisas demonstraram, ao longo do mês de outubro, uma relativa estabilidade nas intenções de voto dos dois candidatos, o que indicava ausência de movimentos bruscos e pressupunha a não ocorrência dos imprevisíveis impactos numéricos das ondas de opinião.

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