
Maurício Costa Romão
A avaliação de governo é considerada pelos especialistas um dos principais fatores determinantes do voto: governos bem avaliados têm maior probabilidade de reeleger incubentes ou candidatos apoiados por eles.
Medida pela soma dos conceitos de ótimo e bom, a avaliação do governo de Dilma Rousseff atingiu apenas 36% nesta última pesquisa do CNI/Ibope de março.
O índice pode ser considerado baixo, retrospectivamente, tendo em vista que há um ano, na pesquisa do Ibope de março de 2013, a presidente exibia 63% de popularidade (outra ótica de se ver a aprovação de governo), sendo que no Nordeste esse percentual chegava a 72%.
Alguns analistas têm enfatizado, entretanto, que o percentual de 36% de popularidade não inviabiliza as pretensões de Dilma por um novo mandato. Argumentam, com razão, que Fernando Henrique e Lula exibiam idênticos números no mesmo mês de março, nos anos em que se candidataram, e foram reeleitos.
A tabela que acompanha o texto desfila os percentuais de aprovação dos governos de FHC, Lula e Dilma nos anos que concorrem a novo termo presidencial.
Nota-se que nos meses comuns de março as percentagens de aprovação são aproximadamente iguais (39%, 38% e 36%, respectivamente). A diferença entre as performances reside no conceito de ruim e péssimo, que é maior na gestão de Dilma.
Vê-se, também, que às portas da eleição, em setembro, as avaliações positivas haviam aumentado e as negativas, diminuído, ambas discretamente, contudo.
A julgar por essa pequena amostra numérica, não científica, para ser reeleita, Dilma teria que chegar a setembro de 2014 com percentuais assemelhados aos dos ex-presidentes, o que é perfeitamente factível.
O problema para atingimento desse desiderato é que não se trata de uma mera questão numérica.
De fato, os percalços dos governos FHC e Lula nos anos de suas reeleições eram inúmeros, inclusive políticos e econômicos, como os de agora.
Ainda assim, naqueles momentos difíceis, a população preferiu dar novo crédito aos incumbentes sob a perspectiva de que eles eram os mais habilitados para dar continuidade à manutenção do Plano Real (FHC) e dos programas sociais, particularmente o Bolsa Família (Lula), âncoras de seus governos.
Assim, naqueles dois momentos históricos, o sentimento era de continuidade. Agora, a população quer mudanças.
Este sentimento mudancista está verbalizado por nada menos que dois em cada três brasileiros, quando, nas pesquisas, manifestam desejo de que as ações do próximo presidente sejam diferentes das praticadas pela atual administração.
O desafio hercúleo da presidente, então, é conseguir despertar emoções positivas nas pessoas, de sorte a reverter o mood atual, flagrantemente desfavorável às hostes palacianas.
Logrado esse intento, a melhoria da parte numérica virá por gravidade e, talvez até, a população eleja uma âncora de referência de seu governo, a exemplo do Plano Real e Bolsa Família.
—————————————————————-
Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br