
Maurício Costa Romão
As pesquisas eleitorais que se sucedem umas às outras continuam mostrando haver na população brasileira grande contingente de eleitores – nada menos que dois em cada três – querendo que as ações do próximo presidente sejam diferentes das praticadas pela atual administração.
Desta feita, são os dois últimos levantamentos nacionais dos institutos MDA e Datafolha, realizados agora em fevereiro, que corroboram a existência desse desejo do brasileiro. Isso quer dizer que as sementes de insatisfação plantadas nas manifestações de junho passado permanecem brotando urbi et orbi.
Na pesquisa do Datafolha é possível desagregar os dados por algumas características socioeconômicas, políticas e de localização geográfica, e verificar como evoluíram, de novembro para fevereiro, os percentuais de eleitores que desejam que a gestão do próximo presidente seja diferente da levada a efeito por Dilma. As duas tabelas que acompanham o texto retratam essa evolução.
Os eleitores que mais desejam mudanças se concentram nos núcleos: masculino (pesquisa de fevereiro), naqueles compostos por jóvens, que têm curso superior, que possuem de maior renda, localizados no Sudeste, que estão em capitais de estados, que reprovam a administração Dilma e que têm maior contingente de adeptos no PSDB (pesquisa de fevereiro).
Já os eleitores que menos preferem mudanças são: do sexo feminino (pesquisa de fevereiro), de faixa etária idosa, os que têm apenas o fundamental, de baixa renda, os que se localizam no Nordeste, predominantes do interior dos estados, os que aprovam a gestão da presidente Dilma e os que admiram o PT.
Como os percentuais dos que desejam mudanças são bastante altos, acima de 50% ou mais (exceto entre os adeptos do PT e entre os que conferem avaliação positiva ao governo), isso significa que a insatisfação reinante na população, quanto ao jeito de governar da presidente, grassa generalizadamente entre os diversos estamentos sociais.
Do ponto de vista evolutivo, o sentimento de mudança se altera relativamente pouco de novembro a fevereiro. Há, contudo três destaques:
(1) o desejo de mudança decresce oito pontos entre os eleitores que ganham acima de 10 salários mínimos; (2) cresce seis pontos no Nordeste, reduto tradicional dos petistas e (3) e se concentra no PSDB, entre os partidos brasileiros, desbancando o PV.
Ao se comparar três pesquisas nacionais do MDA, Ibope e Datafolha, realizadas em fevereiro, com as últimas levadas a efeito pelos respectivos institutos em finais de 2013, observam-se dois resultados meridianamente claros: (a) invariância nas intenções de voto no cenário entre Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos e (b) constância ou tendência de queda da popularidade da presidente, medida pela soma dos conceitos ótimo e bom.
Depreende-se daí, dessa estabilidade dos números das pesquisas, que nem oposição nem situação conseguiram posicionar-se, pelo menos até agora, como representantes dos sentimentos de mudança expressos pelo eleitorado brasileiro.
Mas, se se considerar que a presidente disputa a reeleição na condição de incumbente, com todas as extraordinárias vantagens que tal exercício lhe confere, e não está conseguindo agregar mais adeptos à sua postulação, é de se imaginar que a oposição, ainda pouco conhecida, e certamente menos responsabilizada pelo que motivou a insurgência das massas, tem mais chances de capitalizar a maior parte dessa mensagem mudancista.
—————————————————————-
Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. mauricio-romao@uol.com.br